Destaques Arquivo MPR #32
«Como eu fui Presidente», o drama de Canto e Castro.
No dia 16 de dezembro de 1918, enquanto uma multidão acorria ao Palácio de Belém para prestar homenagem ao Presidente Sidónio Pais, cujo corpo aí se encontrava em câmara ardente, era eleito o novo Chefe do Estado: João do Canto e Castro.
O seu foi um mandato de poucos meses – apenas os que faltavam para terminar o de Bernardino Machado, abruptamente interrompido pelo golpe liderado por Sidónio Pais em 1917.
Apesar de curto no tempo (16 de dezembro de 1918 – 5 de outubro de 1919), não deixou de ser tumultuoso, marcado por revoltas e tentativas de restauração monárquicas: uma ironia do destino, sendo conhecida a simpatia de Canto e Castro pela Monarquia.
Anos depois, iria rascunhar os seus «Apontamentos para a História do meu País», manuscrito onde discorre sobre as suas memórias enquanto secretário de Estado de Sidónio Pais e como Presidente da República.
Guardado no Arquivo dos Presidentes – MPR, recordamos as páginas que levam o título «Como eu fui Presidente».
Num tom confessional, e depois de relatar os factos que conduziram à sua eleição, recorda o choque com que recebeu a notícia quanto à unanimidade em redor do seu nome.
Recusar «tão espinhosa honra» seria a sua primeira reação, «mas o apelo para o meu patriotismo, perante o aflitivo momento por que a Nação estava passando», fê-lo aceitar, segundo as suas palavras, o «enorme sacrifício», «só feito pelo amor ao País».
A passagem pela Presidência trouxe-lhe agruras, como o afastamento de alguns que lhe eram mais próximos, de tal forma que «foi tão grande a ferida […], que não haveria até à morte formar dela cicatrizes.»
E termina estas páginas confidenciando: «Que fosse assaz difícil e trabalhosa a missão que me estava destinada, era fácil de prever, mas que ela me reservasse horas da maior amargura da minha vida, é o que, ninguém, por muita experiência que tivesse poderia supor.»
Para saber mais, leia a transcrição do documento aqui.