Patrão Joaquim Lopes: um lobo-do-mar

No dia 15 de dezembro de 1890, morreu Joaquim Lopes, em Paço de Arcos, concelho de Oeiras. Ao seu nome ficará sempre associado «patrão» no sentido de comandante, arrais, mestre de uma embarcação.

De Olhão, veio jovem para Paço de Arcos, mas já com conhecimento da faina marinha, pois cedo começou a trabalhar na pesca, ao lado do pai.

Tornou-se um dos remadores da falua que assegurava a ligação entre a costa e o forte de São Lourenço do Bugio, também chamado forte de São Lourenço da Cabeça Seca ou simplesmente torre do Bugio. Aqui, permanecia uma pequena guarnição de militares, pronta a dar sinal de alguma ameaça vinda do mar.

Vagou o comando da falua e cedo foi escolhido para o ocupar, com o apoio dos outros camaradas que mesmo mais velhos lhe reconheceram grandes qualidades. Mas não abandonou a pesca, um complemento financeiro para o suporte da família, pois casou-se, entretanto, com uma prima olhanense e tiveram muitos filhos.

A coragem, a generosidade, aliadas a um grande conhecimento das correntes, dos ventos, da morfologia dos fundos ribeirinhos e marinhos, tornaram-no um herói à frente do bote salva-vidas que entretanto lhe foi atribuído. E as condecorações que recebeu, nacionais e estrangeiras – da Grã-Bretanha, França e Espanha – são o reconhecimento pelas muitas pessoas que resgatou da morte por afogamento: de embarcações portuguesas, mas também britânicas, espanholas e francesas.

Entre outras mercês honoríficas, recebeu do Rei D. Luís a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito – a mais prestigiada condecoração portuguesa.

O Patrão Joaquim Lopes morreu com 92 anos. O seu testemunho de vida heroica é hoje perpetuado no busto de José Moreira Rato, inaugurado em Paço de Arcos, em 1927. À cabeça da comissão que angariou fundos para a realização da escultura esteve o Presidente da República, António José de Almeida, juntando-se Gago Coutinho e Sacadura Cabral, entre outros nomes, como lemos no documento que o arquivo do MPR guarda. E o Presidente deu o exemplo com um generoso donativo, como outro documento atesta.

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Circular da comissão promotora da estátua ao Patrão Joaquim Lopes presidida por António José de Almeida, Presidente da República. Gravura com o retrato do Patrão Joaquim Lopes publicada na revista «O Occidente», n.º 23, de 20 de agosto de 1900. Entre as muitas condecorações que ostenta, vê-se, ao pescoço, a Medalha de Mérito de 1.ª Classe da Real Sociedade Humanitária [do Porto]. Gravura da torre do Bugio. Disponível em https://lisboa-e-o-tejo.blogspot.com/2019/05/um-pequeno-quadro-no-museu-de-lisboa.html A torre do Bugio na atualidade. O monumento de homenagem ao Patrão Joaquim Lopes no Jardim Municipal de Paço de Arcos. Esculpido por José Moreira Rato, foi inaugurado em 1927 com a presença de Óscar Carmona, formalmente eleito Presidente da República no ano seguinte. Entre as muitas condecorações que Joaquim Lopes ostenta, vê-se, ao pescoço, a Medalha de Mérito de 1.ª Classe da Real Sociedade Humanitária [do Porto] e, sobreposta, a Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Familiares descendentes do Patrão Joaquim Lopes numa homenagem prestada pela Câmara Municipal de Oeiras, integrada na Festa de Nosso Senhor dos Navegantes. Em Paço de Arcos, o edifício do Instituto de Socorros a Náufragos cujo nome perpetua a memória do Patrão Joaquim Lopes, seu grande percursor. O Instituto foi criado 2 anos depois da sua morte. Monumento ao Patrão Joaquim Lopes no jardim com o mesmo nome, na cidade de Olhão, terra do seu nascimento. Foi inaugurado em 1976. Carta de José Moreira Rato para António José de Almeida, que tinha cessado as funções de Presidente da República, agradecendo o «valioso donativo» para a realização do monumento ao Patrão Joaquim Lopes.