O Palácio de Belém guarda muitas histórias: da atualidade, do passado recente e de tempos longínquos. Algumas dessas histórias – que remontam à Real Quinta de Belém – ficaram gravadas para sempre na toponímia. É o caso do Pátio dos Bichos.

Quem sobe a rampa do Palácio de Belém, passando o portão de honra ladeado por guardas do Esquadrão Presidencial, chega a um amplo e frondoso pátio. Se procurar, poderá ver, mas principalmente ouvir: a ruidosa gralha, o atrevido rabirruivo, o colorido pisco-de-peito-ruivo, a elegante álveola-branca ou o persistente melro. Em dias de sorte, poderá até avistar o formoso esquilo-vermelho a desaparecer na vertical do tronco de uma árvore. Serão esses os bichos que dão nome ao pátio de honra do Palácio de Belém?

Temos notícias de animais na Real Quinta de Belém – assim se chamava o Palácio de Belém em tempos idos – desde o tempo em que o Rei D. João V adquiriu os terrenos para a Casa Real, em 1726. Era um hábito que fazia parte do gosto das casas reinantes e da grande nobreza da Europa e que nos reinados seguintes – de D. José (1750-1777) e de D. Maria I (1777-1816) – ganharia novo fôlego. Ao requinte dos vários jardins com estátuas, tanques com peixes, lagos com repuxos, juntava-se o exotismo de animais nunca vistos até então, espalhados por vários espaços da Quinta de Belém: zebras, gazelas, macacos, camelos e felinos, entre muitos outros como um urso e até um elefante.

Foi para alojar os grandes felinos que no reinado de D. José foi construído um conjunto de jaulas no lado norte do pátio principal do palácio. A documentação da época refere a colocação de grades para «as casas dos bichos», e em 1772 é anotada a chegada de um leão, vindo de Angola, que terá motivado o espanto de muitos. O pintor da Casa Real, Francisco Vieira de Matos – conhecido como Vieira Lusitano – terá sido uma das pessoas a admirar o exótico animal, nunca antes visto pelos habitantes de Lisboa, fixando-o num desenho.

O hábito de ter animais em cativeiro permaneceria em Belém apenas durante algumas décadas, seguramente até à ida da família real para o Brasil, em 1807. No entanto, a sua forte presença perduraria na memória.

Nos nossos dias, mantêm-se no Palácio de Belém as jaulas que outrora albergaram animais. Embora vazias, encerram memórias de outros tempos que o nome daquele local nos recorda a cada instante: Pátio dos Bichos.

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Entrada principal do Palácio de Belém: portão de honra e elementos do Esquadrão Presidencial | GNR. Desenho a sanguínea de autoria de Vieira Lusitano. 
O pintor da Casa Real terá sido uma das pessoas a admirar os animais exóticos do Palácio de Belém, nunca antes vistos pelos habitantes de Lisboa. É, pois, provável, que este leão fosse um dos habitantes das jaulas do Pátio dos Bichos. Entrada das jaulas do Pátio dos Bichos. Interior das jaulas do Pátio dos Bichos. Interior das jaulas do Pátio dos Bichos. Pátio dos Bichos: um dos espaços mais emblemáticos do Palácio de Belém.