1 de dezembro de 1910: o dia da Restauração da Independência é celebrado, pela primeira vez, em República.

Semanas antes, a 12 de outubro, esta mesma data tinha sido incluída na lista dos feriados nacionais aprovados por decreto pelo novo regime, juntamente com o 1 e o 31 de janeiro, o 5 de outubro e o 25 de dezembro.

Durante a Monarquia Constitucional, o dia da revolta de 1640 não tinha, no entanto, o mesmo estatuto: era considerado, apenas, um dia de «simples gala» (em contraposição aos dias de «grande gala», esses, sim, feriados), assistindo, por norma, a família real a um «Te Deum» mais reservado e íntimo.

Não deixa, por isso, de ser curioso que seja a República a elevar a celebração da restauração da Monarquia portuguesa a feriado, consagrado à «autonomia da Pátria», procurando, assim, unir as diversas tendências políticas (monárquicas e republicanas) em torno de uma data transformada em símbolo da independência nacional.

Mas nesse 1 de dezembro de 1910 não se comemorou, apenas, os 270 anos da Restauração da Independência.

A 22 de novembro, um outro decreto determinava que o 1.º de Dezembro fosse, também, o feriado consagrado à «festa da Bandeira Nacional, que é a representação objetiva da Pátria e o precioso símbolo que resume as suas aspirações, sentimentos nobres e energia».

O mesmo diploma definia, ainda, que a organização dos festejos da primeira grande festa cívica da República ficasse a cargo da Câmara Municipal de Lisboa, e que a celebração se estendesse a todas as escolas do país.

Efetivamente, dias depois da publicação do decreto, a 29 de novembro, a Comissão incumbida de escolher a Bandeira Nacional do novo regime apresentava o projeto final, de imediato aprovado pelo Governo Provisório.

Seguiram-se dias de azáfama na Cordoaria Nacional, em Lisboa, onde um batalhão de operárias produziu os primeiros exemplares da Bandeira, a tempo da festividade que se aproximava.

Apesar da chuva torrencial, e segundo a imprensa da época, foram milhares os que participaram nos festejos do 1.º de Dezembro de 1910 nas ruas da capital.

Um extenso cortejo seguiu desde os Paços do Concelho até à Avenida da Liberdade, onde a Bandeira Nacional, transportada por um guarda republicano e escoltada por uma guarda de honra, foi colocada junto ao monumento dos Restauradores, com pompa e circunstância, ao som de A Portuguesa, composição musical que tinha ganhado, entretanto, o estatuto de Hino Nacional.

Era a primeira vez que a nova bandeira verde-rubro saía à rua, não só em Lisboa, mas um pouco por todo o país.

Ainda levaria uns meses até à aprovação final da Bandeira (e do Hino) na Assembleia Nacional Constituinte: foi na sua sessão inaugural, a 19 de junho de 1911.

Até lá, e mesmo depois dessa confirmação oficial, a escolha da nova da Bandeira foi motivo de acesa discussão, que só o tempo ajudou a serenar.

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Excerto da reportagem da «Ilustração Portugueza» (edição n.º 251) sobre a «Festa da Bandeira» de 1 de dezembro de 1910. Excerto da reportagem da «Ilustração Portugueza» (edição n.º 251) sobre a «Festa da Bandeira» de 1 de dezembro de 1910. Excerto da reportagem sobre a «Festa da Bandeira» de 1 de dezembro de 1910, publicada na revista «Occidente» (edição n.º 1150). O Presidente Manuel de Arriaga, junto ao monumento dos Restauradores, em Lisboa, nas celebrações do 1.º de Dezembro de 1913. Postal alusivo à polémica em torno da escolha da nova Bandeira Nacional. Caricatura da autoria de Silva e Sousa, alusiva à escolha da Bandeira Nacional, publicada no semanário humorístico «O Zé» (edição n.º 7). Imagem gráfica do número 47 da rubrica mpr+.