Destaques Arquivo MPR #24
Teófilo Braga: o escritor e a livraria centenária do Porto.
Foi aos 16 anos que Teófilo Braga, futuro Presidente da República, publicou, ainda na sua terra natal, Ponta Delgada (Açores), o primeiro livro: a coletânea de poemas Folhas Verdes, «que uma temeridade de criança fez soltar das mãos», confessaria mais tarde.
A partir de então, Teófilo Braga tornar-se-ia um dos escritores mais conhecidos (e prolíferos) da sua época, dividindo-se entre o ensino de Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras e a escrita de artigos de jornal e de dezenas de livros, de que são exemplo O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições (1885) e a monumental História da Literatura Portuguesa (1909-1918).
Não causa, por isso, estranheza, encontrarmos no Arquivo dos Presidentes – MPR uma extensa correspondência entre a Livraria Internacional Chardron, no Porto, e o escritor.
Fundada em 1869 pelo editor francês Ernesto Chardron, a sua história cruza-se com a da emblemática Livraria Lello, que ocupa o edifício neogótico do número 144 da Rua das Carmelitas.
Chardron editou alguns dos mais importantes escritores portugueses de finais do século XIX, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e, claro, Teófilo Braga: o seu catálogo, hoje espólio da Livraria Lello, tinha mais de 600 páginas.
A correspondência que podemos descobrir no Arquivo, e que tem como remetentes os sucessivos proprietários da livraria (entre eles, os irmãos José e António Pinto de Sousa Lello), discorre, na sua maioria, sobre questões editoriais: receção de textos originais, envio de provas para revisão, oferta de livros, pedidos para escrever um artigo, um prólogo ou uma crítica.
Mas parte dela é, também, testemunho de uma relação mais próxima, como as felicitações enviadas por altura do aniversário de Teófilo Braga ou da sua eleição para a Presidência da República.
Há, ainda, o convite, datado de 5 de janeiro de 1906, para assistir, dias depois, à inauguração das novas instalações da livraria, que trocou a Rua do Almada pela Rua das Carmelitas, onde, desde então, se mantém.
E uma carta, enviada dois anos antes, a manifestar a intenção de incorporar na decoração do novo edifício um busto de Teófilo Braga: o mesmo que lá se encontra, ao lado de Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro e Tomás Ribeiro, autoria de Romão Júnior.
RC
* Os documentos originais integram o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.