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A popularidade de Bernardino Machado começou cedo, muito antes de 1915, ano em que foi eleito pela primeira vez Presidente da República.
Os artistas mais conhecidos do seu tempo fizeram-lhe muitas caricaturas, ainda que, quase sempre, simpáticas para o retratado, pouco trocistas. São as barbas, o bigode e as sobrancelhas o mote principal do humor e não, por exemplo, a baixa estatura, de um exagero zombeteiro usado nas caricaturas de outras figuras públicas.
Em 1913, o cônsul Eduardo de Carvalho escrevia, numa carta para Bernardino Machado:
«Continuo a verificar que, apesar da distância, V. Ex.ª é o político mais popular de Portugal, não só pela gente que o recorda, mas ainda pela quantidade de manifestações artísticas, algumas caricaturais, em que V. Ex.ª aparece. Fui à exposição de caricaturas [II Salão dos Humoristas de Lisboa] e vi lá umas coisas interessantes a seu respeito […]. A brincar, a brincar, isto prova que se não esquecem de si.»[1]
Bernardino Machado apareceu desenhado na imprensa inúmeras vezes pelo traço de Rafael Bordalo Pinheiro, do seu filho Manuel Gustavo, Alonso, Sanches de Castro, Silva Monteiro, Jorge Colaço, Silva e Sousa, Almada Negreiros, Leal da Câmara.
O Museu da Presidência da República adquiriu para a sua coleção esta caricatura, de Almada Negreiros, então com 24 anos. Nesta data, assinava já apenas «almada» – a assinatura que se tornou uma imagem de marca do artista.
«As caricaturas de Almada Negreiros» foi o título do artigo que escreveu Fernando Pessoa, publicado na revista A Águia, de 16 de abril de 1913, onde afirma: «que este artista tem brilhantismo e inteligência, muito e muita – eis o que está fora de se poder querer negar.»
Vestindo fraque e com a cartola que tanto usou, Bernardino ostenta, à cintura, uma faixa com a data da revolução de Sidónio Pais: «5 de dezembro de 1917». Foi o fim do seu primeiro mandato, obrigando-o a partir para o exílio.
AT
[1] Carta citada por Osvaldo Macedo de Sousa, «A cordialcaricatura de Bernardino Machado» in Boa Viagem, Senhor Presidente! De Lisboa até à Guerra: 100 Anos da Primeira Visita de Estado [Catálogo]. Lisboa: Museu da Presidência da República/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2017, pág. 39.