No dia 17 de julho, a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) completa 25 anos. Inicialmente constituída por 7 países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe –, em 2002 Timor-Leste tornou-se no oitavo Estado-membro, e em 2014 a Guiné Equatorial foi o nono país a integrar o grupo.

Na coleção do Museu da Presidência da República existem muitos e variados presentes de Estado provenientes de países da CPLP. Cada um desses objetos tem várias histórias para nos contar, a começar pela história do encontro em que foi oferecido, até à história do seu significado intrínseco, como peça que representa um país.

No «mpr+» de julho, falamos de uma escultura oferecida pelo Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, ao Presidente Jorge Sampaio, aquando da sua visita a Portugal, em outubro de 2005. Terceiro Presidente de Moçambique após a independência, Guebuza tomou posse em fevereiro de 2005, numa cerimónia onde esteve presente o Presidente Sampaio. Em outubro, o Presidente moçambicano retribuiu a visita, vindo a Lisboa, ocasião em que ofereceu «Família», uma escultura em pau-preto, representativa da arte maconde.

Os Macondes (ou Makondes) são um povo da África oriental que habita o sudeste da Tanzânia e o nordeste de Moçambique, no Planalto de Mueda, região do Cabo Delgado. Permaneceram isolados e afastados da subjugação de outros povos até à década de 1920, com a chegada dos portugueses. A forte coesão de grupo, a capacidade de resistência e a sensibilidade estética são apontadas como suas principais características, aparecendo desde sempre ligados à atividade escultórica. Na década de 1960, os Macondes foram fundamentais na organização da resistência contra o colonialismo português e a venda das suas esculturas foi uma importante fonte de financiamento da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).

A madeira utilizada pelos macondes nas suas esculturas é o pau-preto, proveniente da árvore Dalbergia melanoxylon (jacarandá-africano) também conhecida como Mpingo, caracterizada pela cor escura e dureza (utilizada no fabrico de instrumentos como clarinetes, oboés, teclas de piano, etc.).

A peça «Família» pertence a um dos géneros da arte maconde: Ujamaa que significa união e representa o sentido de comunidade. Num «tronco familiar», são esculpidos corpos e caras de feições macondes que se entrelaçam uns nos outros simbolizando o desejo de participação num ideário comum e de pertença a um grupo.

Com a independência de Moçambique, em 1975, a arte maconde tornou-se num dos principais símbolos da identidade moçambicana.

A peça «Família» pode ser vista na exposição permanente do Museu da Presidência da República.

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Pormenor da peça «Família». «Famíia». Presente de Estado oferecido pelo Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, ao Presidente Jorge Sampaio, por ocasião da sua visita a Lisboa, em outubro de 2005. Pormenor da peça «Família». Realizada em pau-preto (da árvore jacarandá-africano), é um exemplo da arte maconde «Ujamaa» que simboliza a união da comunidade. Exemplo da árvore «Dalbergia melanoxylon» (jacarandá-africano) utilizada na produção dos vários géneros de arte maconde. Corte transversal de um tronco da «Dalbergia melanoxylon» (jacarandá-africano) onde é possível ver a cor escura que caracteriza a escultura maconde. A peça «Família» encontra-se exposta no Museu da Presidência da República.