A 18 de dezembro de 1918, lia-se no jornal O Século: «… não se pode descrever a extraordinária concorrência que acorreu ao palácio de Belém. Os carros eletricos íam pejados de passageiros, de todos os lados surgiam trens e automóveis e pelo caminho só se encontrava gente a pé. O pateo dos Bichos encheu-se por tal forma que a multidão chegou a arrombar uma porta».

Mas porque acorria tal multidão a Belém?

Dias antes, a 14 de dezembro, Sidónio Pais era assassinado na Estação do Rossio, em Lisboa, quando se preparava para partir para o Porto.

Do Hospital de São José, o corpo do Presidente foi transportado, no dia seguinte, para o Palácio de Belém, para ser velado.

No dia 16, iniciou-se, pelas 11h00, a operação de embalsamamento, que terminou cerca das 18h00.

Sidónio Pais foi, então, vestido com a sua farda (o decreto n.º 4178, de 27 de abril de 1918, fixou o uniforme do Presidente da República, equiparando-o ao de oficial general), que usou até à exaustão durante o seu consulado, e que o ajudou a construir uma imagem de líder impoluto que vinha pôr ordem no caos.

Sob o uniforme, foi colocada a banda, a placa e o colar da Ordem da Torre e Espada e a placa da Banda das Três Ordens, condecoração esta, aliás, restabelecida por decreto do próprio Presidente dias antes, a 1 de dezembro (as antigas Ordens Militares, com exceção da Torre e Espada, tinham sido extintas com a implantação da República em 1910).

Entretanto, transformava-se a Sala Luís XV (atual Sala dos Embaixadores) numa câmara ardente, onde, contava O Século, «n’um artístico e magnificente catafalco, será colocada a urna de mogno com ornamentações de prata».

Ainda no quarto onde foi embalsamado, foram várias as pessoas que quiseram prestar a sua última homenagem, junto da família do Presidente falecido, entre elas João do Canto e Castro, recém-eleito pelo Congresso para substituir Sidónio Pais na chefia do Estado.

Na manhã do dia 17, a urna era transferida para a Sala Luís XV, seguindo, junto a ela, Canto e Castro, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e vários oficiais, os «cadetes de Sidónio».

Por volta do meio-dia, foram então abertas as portas do Palácio de Belém, por onde passaram centenas de pessoas que queriam manifestar as suas condolências: ramos e coroas de flores foram dispostos à volta da urna, «algumas senhoras foram acometidas de síncopes» e «deram-se várias cenas de lágrimas», segundo o relato de O Século.

Na madrugada do dia 18, o corpo seguiu para o salão nobre da Câmara Municipal de Lisboa, aí permanecendo durante 4 dias.

Uma semana depois do crime, a 21 de dezembro, realizou-se o funeral. Partindo dos Paços do Concelho às 13h00, o longo cortejo chegou ao Mosteiro dos Jerónimos, já cerca das 19h00, onde Sidónio Pais foi sepultado.

Segunda a imprensa da época, milhares de pessoas participaram na homenagem ao «Grande Morto». Nascia, assim, o mito de Sidónio Pais, do «Santo Sidónio», que se iria estender durante décadas.

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Primeira página do jornal «O Século», dedicada à morte de Sidónio Pais, com imagem da multidão no Palácio de Belém. Cerimónias fúnebres do Presidente da República Sidónio Pais; no Pátio dos Bichos, a multidão aguarda a chegada do corpo, que viria a estar em câmara ardente na atual Sala dos Embaixadores. Bilhete-postal alusivo à morte de Sidónio Pais. Fita de condolências dos funcionários da Câmara Municipal de Lisboa. Edição da «Ilustração Portugueza» dedicada ao funeral de Sidónio Pais. O cortejo fúnebre ficou marcado por manifestações coletivas de pesar e homenagem de vários setores que incluíram crianças vestidas de anjos. Cerimónias fúnebres do Presidente da República Sidónio Pais; o caixão, carregado em ombros, sai dos Paços do Concelho de Lisboa. Fotografia oficial do Presidente da República Sidónio Pais. Imagem do número de janeiro da rubrica mpr+.