Desde 1912 que o Palácio de Belém é a residência oficial do Presidente da República Portuguesa. A história do arrendamento do anexo do palácio ao chefe do Estado, que perdurou até 1928, já aqui foi contada, numa edição anterior do mpr+.

Desconhecemos a razão da escolha do Palácio de Belém para tal função, mas parece-nos hoje quase óbvia. Era um dos mais pequenos palácios que pertencera à família real, ou seja, oferecia dignidade sem opulência (o que convinha ao regime recém-instaurado) e, desde 1908, estava sob tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros para aí acolher hóspedes oficiais estrangeiros, de visita a Portugal.

Na sequência da aprovação da Constituição, em agosto de 1911, a Secretaria (Geral) da Presidência da República foi instalada no Palácio de Belém e, em junho de 1912, o Congresso da República autorizou a mudança do Presidente da República para o anexo do Palácio de Belém, mediante o pagamento mensal de uma renda.

Manuel de Arriaga, primeiro Presidente eleito, mudou-se para o então denominado anexo do Palácio de Belém, em julho de 1912, após um período em que residiu, a expensas próprias, no Palácio da Horta Seca (Palácio do Manteigueiro), junto ao Largo de Camões, no Chiado. Ficara óbvio, a certa altura, que era pouco prático a viagem do Presidente da zona do Chiado até Belém, onde funcionavam os serviços da Presidência. As funções do Chefe do Estado necessitariam de uma área substancialmente maior para albergar condignamente todas as receções oficiais e audiências.

A área escolhida para instalar o Presidente foi o edifício designado de anexo: concluído em 1901, localizado a nascente do palácio, e onde ficavam os convidados estrangeiros de visita a Portugal. Para albergar o gabinete oficial ou gabinete de audiências, foi escolhida uma sala situada no fim da sucessão de salas de aparato do palácio e que correspondia ao antigo quarto da princesa D. Amélia, entre 1886 e 1889, onde haviam nascido os príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel.

A falta de documentação coeva fez-nos duvidar, durante muitos anos, da localização exata do primeiro gabinete do Presidente da República, já que as fotografias existentes não eram suficientemente elucidativas. Porém, investigações mais recentes permitem-nos concluir que o antigo quarto da princesa D. Amélia terá sido a primeira opção e a mais constante, entre todos os Presidentes da República, de Manuel de Arriaga a Marcelo Rebelo de Sousa. Apenas durante as décadas de 1930 e 40, época em que Óscar Carmona optou por viver no Palácio da Cidadela, o Palácio de Belém passou para segundo plano, com utilizações pontuais por parte do Presidente que, nesse período, vinha a Belém somente cerimónias oficiais.

Com Francisco Craveiro Lopes, o Palácio de Belém regressou ao centro das funções do Chefe do Estado. Durante o seu mandato (1951-1958), foi executada uma intensa campanha de obras de recuperação da zona residencial, que passou do edifício anexo para a área mais antiga do palácio, numa ala designada Arrábida, termo usado em memória dos antigos frades arrábidos que ali ficavam hospedados, entre os séculos XVI e XVIII. Nesse período, a zona da nova residência terá sido utilizada também como gabinete e biblioteca, nomeadamente na área do antigo ateliê de pintura de D. Carlos (o último piso do palácio).

No início da década de 1970, Américo Tomás opta por não viver no Palácio de Belém, mas datam desse período alterações significativas no gabinete localizado exatamente no espaço do primeiro (quarto de D. Amélia), dotando-o de uma nova decoração, num gosto por mobiliário mais formal, ao estilo do século XVII, inaugurando, assim, uma tradição na adaptação do gabinete a cada novo Presidente da República, com um ambiente mais personalizado. Assim testemunham as diferentes alterações no mobiliário, pintura e objetos decorativos introduzidos ao longo dos últimos 50 anos, com a utilização de peças de valor artístico e histórico ou optando por objetos mais contemporâneos.

Também assim é com o gabinete do atual Presidente, onde são de assinalar peças datadas do século XVI ao XXI: uma Adoração de origem flamenga; vistas de Sintra e do Algarve de Eduardo Viana; um quadro do Rei D. Carlos com o tema do mar; mobiliário português dos séculos XVII a XIX, e a interessante presença de duas peças que já tinham estado ao serviço do primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga: a secretária, em estilo neorrenascença, e a famosa cadeira dos leões.

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Entre 1886 e 1889, fora o quarto de dormir da princesa  D. Amélia, e aí nasceram os seus filhos, D. Luís Filipe e D. Manuel. O Gabinete Oficial do Presidente da República Jorge Sampaio. O Gabinete Oficial do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva. O Gabinete Oficial do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Tapeçaria de Bruxelas do século XVII, da coleção do Palácio de Belém, decora o local de audiências do Presidente da República. «Adoração dos Reis Magos», pintura flamenga quinhentista da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, em destaque na sala de audiências do Presidente da República. Retrato oficial do Presidente da República Manuel de Arriaga, sentado na cadeira dos leões. Sabemos hoje que o cenário deste retrato corresponde ao atual Gabinete  Oficial do Presidente. O Presidente da República, Bernardino Machado sentado na Cadeira dos Leões, no seu gabinete de trabalho, no Palácio de Belém. O Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, no Palácio de Belém, após ter assumido a chefia do Estado. Reportagem da revista brasileira «Revista da Semana» sobre o Palácio de Belém. Numa das imagens (3.ª, à direita), mostra-se o gabinete do Presidente António José de Almeida.