Bernardino Machado

Biografia
Bernardino Machado foi eleito no dia 6 de agosto de 1915.
Foi o único Presidente da I República (1910-1926) a ser eleito por duas vezes para o cargo.
O seu primeiro mandato presidencial ficou marcado pela participação de Portugal na I Guerra Mundial, contexto em que efetuou aquela que foi a primeira visita de um Presidente da República Portuguesa ao estrangeiro, em outubro de 1917.
O seu mandato foi interrompido pelo golpe de Estado liderado por Sidónio Pais.
Bernardino Luís Machado Guimarães nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de Março de 1851. Foram seus pais: António Luís Machado Guimarães, 1.º Barão de S. Joane, e Praxedes de Sousa Ribeiro Guimarães, sua segunda mulher. De Vila Nova de Famalicão, seu pai rumou ao Brasil, tornando-se abastado comerciante.
Em 1860 toda a família regressou a Portugal, vivendo primeiro em Joane, depois em Vila Nova de Famalicão. O papel que António Guimarães desenvolveu em matéria de administração municipal, justiça e benemerência, valeu-lhe, em 1870, o baronato.
Em 1872 Bernardino Machado atingiu a maioridade e optou pela nacionalidade portuguesa. Aos 20 anos casou-se com Elzira Dantas Gonçalves Pereira, de quem teve 19 filhos.
Os estudos iniciados na infância, ainda no Brasil, tiveram continuação no Porto, culminando na Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1866. Aqui concluiu, em 1873, o bacharelato em Matemática e em Filosofia. Em 1875 licenciou-se, e dois anos mais tarde doutorou-se com a tese: Dedução das Leis dos Pequenos Movimentos Periódicos da Força Elástica.
Percurso académico e científico
Em Fevereiro de 1877 foi nomeado lente substituto da Faculdade de Filosofia, encarregado da cadeira de Agricultura; dois anos mais tarde, professor catedrático.
Em 1880 lecionou Geologia; em 1881 tornou-se responsável da cadeira de Agricultura, passando, em 1883, a reger a 1ª e 2ª cadeiras de Física. Em 1886 coube-lhe a cadeira de Antropologia.
Exerceu a docência na Universidade de Coimbra até 1907, ano em que se demitiu da cátedra, concretamente na sequência da expulsão de alguns alunos grevistas determinada pelo Conselho de Decanos. Por proposta da Faculdade de Ciências daquela Universidade, voltou a ser reintegrado em 1919.
Em 1890 presidiu à Academia de Estudos Livres; em 1892 e 1897 aos congressos do Magistério Primário. Representou Portugal nas comemorações do Tricentenário de Cristóvão Colombo e nas Jornadas do Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, ambos realizados em Madrid.
Em 1891-1892 dirigiu o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Em 1892 foi nomeado vogal do Conselho Superior de Instrução Pública.
Mentor da escola pública, laica e democrática, desenvolveu uma pedagogia inovadora inspirada na escola da “Educação nova”. Espelhou as suas ideias em diversos estudos: A Introdução à Pedagogia (1892), O Ensino (1898), O Ensino Primário e Secundário (1899) e O Ensino Profissional (1899).
Em Março de 1873 foi admitido como sócio no Instituto de Coimbra, que dirigiu entre 1896 e 1908. Em Agosto de 1878 foi eleito procurador substituto à Comissão Distrital da Junta Geral de Coimbra.
Percurso político
Iniciou-se na política bastante novo pela mão do chefe regenerador Fontes Pereira de Melo. Em Agosto de 1881 foi proposto deputado pelo círculo de Vila Nova de Famalicão, mas desistiu a favor de Adolfo Cunha Pimentel.
Nas eleições suplementares de 1882 foi eleito deputado pelo círculo de Lamego, em representação do Partido Regenerador. Estreou-se como orador parlamentar em 1883.
Na legislatura seguinte (1884-1887) foi reeleito, agora por Coimbra. Em 1890 foi eleito par do Reino pelos estabelecimentos científicos, lugar que ocupou até 1893.
Em Fevereiro de 1893 integrou o primeiro ministério de Hintze Ribeiro como ministro das Obras Públicas. Nessa qualidade autorizou a organização da Exposição Industrial Portuguesa e promoveu a criação do Tribunal dos Árbitros Avindores, considerado por alguns autores o primeiro Tribunal de Trabalho. Demitiu-se em Dezembro do mesmo ano.
Em Abril de 1894 foi reeleito par do Reino, cargo que ocupou até à abolição dos pares eletivos, em Setembro do ano seguinte.
Como parlamentar o ensino mereceu-lhe especial atenção. À data, acumulava já uma empenhada e inovadora experiência docente. Por exemplo, tinha resultado de um projeto da sua iniciativa a criação da cadeira de Antropologia – que regeu - na Faculdade de Filosofia, substituindo a de Agricultura. A reforma da instrução secundária, a liberdade no ensino e a organização do Conselho Superior de Instrução Pública, de que será vogal, foram as principais questões que abordou.
Em 1874 entrou na Maçonaria, na Loja Perseverança, com o nome simbólico de "Littré". Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano, de 1892 a 1895, o seu prestígio elevou-o a grão-mestre, cargo que ocupou de 1895 a 1899.
Em 31 de Outubro de 1903, descrente dos valores e práticas monárquicas, fez a sua profissão de fé republicana numa conferência proferida no Ateneu Comercial de Lisboa. Aderia, formalmente, ao Partido Republicano Português (PRP). A partir de então, o prestígio e a sua capacidade organizadora, contribuíram decisivamente para a remodelação e o robustecimento do partido.
Em 1906 foi eleito membro do Diretório e seu Presidente até 1909. Tomou parte nas vigorosas campanhas de ataque à Monarquia e de propaganda dos ideais republicanos, intervindo ativamente em numerosos comícios.
Em 1904, 1905 e 1906 perfilou-se como candidato a deputado nas listas republicanas, sempre pelo círculo de Lisboa, nunca conseguindo ser eleito.
Exerceu a docência na Universidade de Coimbra até 1907, ano em que se demitiu da cátedra, em protesto contra a ditadura de João Franco, e, concretamente, na sequência da expulsão de alguns alunos grevistas determinada pelo Conselho de Decanos. Por proposta da Faculdade de Ciências daquela Universidade, voltou a ser reintegrado em 1919.
Em 1907 solidarizou-se com os estudantes grevistas da Universidade de Coimbra, num movimento generalizado de contestação ao governo de João Franco; demitiu-se do lugar de professor catedrático como protesto contra a repressão exercida durante a greve académica. A sua atitude mereceu-lhe homenagens públicas. Nas vésperas da proclamação da República era um dos mais populares, prestigiados e amados líderes populares.
Em Agosto de 1910 foi um dos cinco deputados eleitos por Lisboa Oriental, juntamente com António José de Almeida, Afonso Costa, Alfredo de Magalhães e Miguel Bombarda.
Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, integrou o governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Assumiu interinamente, de Abril a Junho de 1911, a pasta da Justiça, por doença do seu titular, Afonso Costa.
Em 1911 foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo de Lisboa.
A sua amizade e aliança tática com Afonso Costa tornaram-no o candidato radical à primeira Presidência da República, perdendo a eleição para Manuel de Arriaga, apoiado pelas forças do "bloco".
Eleito senador em 25 de Agosto de 1911, abandonou funções por ter sido indigitado o primeiro governo constitucional da República em Setembro seguinte.
Em 20 de Janeiro de 1912 foi nomeado ministro de Portugal no Rio de Janeiro. Veio a tomar posse da legação portuguesa em Julho seguinte, elevada a embaixada em Novembro de 1913.
Bernardino Machado regressou a Portugal em Fevereiro de 1914, quando se vivia no país uma crise ministerial. Chegou a tempo de colher a herança de Afonso Costa, entretanto demitido. Formou um ministério extrapartidário, num esforço de consenso e apaziguamento das contendas partidárias. O executivo tomou posse no dia 9 de Fevereiro de 1914, mantendo-se em funções até 23 de Junho. Pretendia ser um governo de reconciliação nacional, prevendo no seu programa uma proposta de tréguas entre monárquicos, sindicalistas e católicos, a quem prometia uma revisão da lei da separação da Igreja do Estado. Constituiu, na prática, um governo de técnicos.
Pediu a demissão coletiva do executivo a que presidiu, consciente de que a saída dos ministros do Partido Democrático seria benéfica para o regular funcionamento da vida política. Foi exonerado no dia 23 de Junho, mas imediatamente autorizado por Manuel de Arriaga, Presidente da República, a constituir novo governo. A tomada de posse ocorreu nesse mesmo dia, com uma formação de ministros independentes. Manteve-se em exercício até Dezembro seguinte.
Coube a Bernardino Machado a difícil tarefa de definir a posição de Portugal no conflito europeu ao lado dos Aliados. Em Agosto de 1914 apresentou uma proposta de lei, que foi aprovada, visando conferir ao executivo as faculdades necessárias para garantir a ordem na conjuntura de guerra.
Em 23 de Novembro de 1914 leu no Congresso a declaração governamental sobre a intervenção militar portuguesa na guerra, fazendo-a depender de pedido expresso da Inglaterra, no momento em que esta tal achasse necessário. A posição mereceu severas críticas por parte de muitos democráticos e evolucionistas, defensores de uma intervenção de Portugal que não esperasse pelo pedido inglês. Bernardino Machado veio a demitir-se em 5 de Dezembro seguinte, regressando ao lugar de senador.
Em Março de 1915 tomou uma posição frontal contra o governo de ditadura de Pimenta de Castro, participando na reunião do Congresso, no palácio da Mitra.
Eleição para Presidente da República
A vitória dos democráticos na revolta de 14 de Maio de 1915 e nas eleições subsequentes, garantiram a Bernardino Machado a eleição para a Presidência da República, consumada em 6 de Agosto de 1915. Obteve 134 votos no terceiro escrutínio, contra 18 de Correia Barreto e 27 boletins de voto nulos.
Todavia a sua eleição não foi pacífica, mesmo entre os democráticos, cujas preferências se dividiram entre António Xavier Correia Barreto, Alves da Veiga e Duarte Leite. O candidato evolucionista foi o poeta Guerra Junqueiro; pelos unionistas surgiu Duarte Leite.
Na primeira votação compareceram 189 congressistas e os votos distribuíram-se pelos vários candidatos: Bernardino Machado, 71; Correia Barreto, 44; Abílio de Guerra Junqueiro, 33; Duarte Leite, 20; Augusto Alves da Veiga, 4; Pedro Martins e José Caldas, 1; boletins em branco, 15. No segundo escrutínio, os resultados foram: Bernardino Machado, 75; Correia Barreto, 45; Guerra Junqueiro, 30; Duarte Leite, 19; Alves da Veiga, 2; votos em branco, 12.
Primeiro Exílio
Deposto pelo golpe sidonista, Bernardino Machado partiu para o exílio em França, via Madrid, no dia 15 de Dezembro de 1917. Chegou a Paris um mês depois e aí residiu até Abril de 1918, altura em que se mudou para Hendaye.
Em Novembro de 1918 seguiu para Cambo-les-Bains. Em Dezembro regressou novamente a Paris. Durante todo o exílio Bernardino Machado redigiu várias proclamações e manifestos contra o consulado sidonista, encontrou-se com políticos e altas individualidades francesas e inglesas, concedeu entrevistas e proferiu várias conferências públicas. Em Maio de 1918 sofreu um rude golpe com o reconhecimento oficial do regime de Sidónio Pais pelos governos francês e inglês.
Após a morte de Sidónio, em 14 de Dezembro de 1918, Bernardino Machado acalentou a expectativa de ser chamado a Portugal para concluir o mandato presidencial. Na verdade, poucos o queriam de volta, razão porque a preferência foi para a eleição de Canto e Castro. Decidiu, pois, renunciar, ao mandato, proferindo uma mensagem em 18 de Fevereiro de 1919. Ainda neste mês foi autorizado a regressar a Portugal.
Retoma da Atividade Política Nacional
Chegado do exílio em Agosto de 1919, voltou em força à atividade política, tendo sido sendo eleito novamente senador por Lisboa, em Outubro seguinte.
Por esta altura ocorreu a sua reintegração como professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra – a 5 de Novembro -, mas aposentou-se pouco depois.
No dia 25 de Fevereiro de 1921, o então Presidente da República, António José de Almeida, convidou-o a formar governo. Bernardino Machado cedeu à interpelação e constituiu um executivo plural, com representações das diversas forças políticas.
Este terceiro governo a que presidiu, em funções desde 2 de Março, teve vida curta. Com base num suposto envolvimento na preparação de um golpe de estado para depor António José de Almeida, ocorreram movimentações protagonizadas pela GNR, que conduziram à queda do gabinete a 23 de Maio. Dissolvido o Congresso e marcadas novas eleições para Julho, decidiu não concorrer, ficando fora das câmaras.
Em Outubro de 1921 recusou o convite para representar Portugal na Conferência de Washington, acontecimento que foi determinante para a pacificação das relações inter-países e para a concretização de uma política de desarmamento.
Nas eleições presidenciais de 6 de Agosto de 1923 apresentou-se novamente como candidato. Foi surpreendido com a recusa de apoio dos democráticos, ainda ressentidos com as posições divergentes que Bernardino Machado havia tomado por ocasião do golpe de Sidónio Pais. Consideravam também a sua imagem desgastada, preterindo-o a favor de Manuel Teixeira Gomes. Magoado, convencido de um direito que a usurpação sidonista lhe havia retirado, aceitou o apoio dos conservadores. A sua candidatura foi derrotada pela de Teixeira Gomes.
Em Novembro de 1925 foi eleito senador pela Conjunção Republicano-Socialista.
Segundo Exílio
Após o abandono do cargo de Presidente da República, aos 75 anos de idade, continuou a viver no Castelo de Santa Catarina, a sua casa na Cruz Quebrada, muito próximo de Lisboa. Retomou rapidamente o combate político. Estreitou relações com os opositores; aconselhou e apoiou os conspiradores que prepararam a revolução de Fevereiro de 1927.
Foram estas ligações que motivaram a segunda expulsão de território nacional. Nas vésperas do movimento revolucionário de Fevereiro de 1927, os ditadores, repetindo o gesto de Sidónio Pais, expulsaram do país Bernardino Machado. Esteve em Vigo, em Cambo-les-Bains, em Paris, em Bayonne, em Ustaritz, Biarritz, La Guardia, Madrid, Valencia, Banyuls-sur-Mer e Mónaco.
Durante o longo segundo exílio, de treze anos, tentou de forma constante e empenhada, a par com Afonso Costa, unir os opositores à ditadura vigente, os que ficaram ou os que saíram do país. Em sua casa tiveram lugar inúmeras reuniões de exilados políticos. Por várias vezes dirigiu-se aos chefes de Estado e de Governo, bem como à Sociedade das Nações, protestando contra o reconhecimento oficial da Ditadura.
Em 1936, a ausência de liberdade de expressão em Portugal, levou-o a, perante uma amnistia do governo, recusar o regresso ao país.
Publicou dezenas de manifestos contra a Ditadura e o Estado Novo, dos quais se destacam A Pastoral Financeira do Patriarca (1928), O Crime Financeiro da Ditadura (1929), O Estado Novo Ditatorial (1931), Os Perigos da Ditadura (1933), O Estado Novo e o Grande Empréstimo Externo (1935) e Os Perigos Coloniais (1935).
Alguns dos seus filhos e outros membros da família foram presos. Foi multado com a exorbitante quantia – à época - de 200 contos, sob a acusação de trair os interesses do país.
Proclamada a República em Espanha, fixou-se em La Guardia, na Galiza, não sem que o governo de Oliveira Salazar pressionasse as autoridades espanholas para impedirem a fixação, junto à fronteira, de líderes da oposição exilados. No Verão de 1935 o governo de Lerroux cedeu, razão porque Bernardino Machado mudou para Madrid. A eclosão da guerra civil espanhola obrigou-o a sair da capital, quando a cidade estava quase cercada pelas forças nacionalistas.
Em Setembro de 1936 deslocou-se para Valência, e em Outubro, instado por familiares e amigos, rumou a França, acabando por se fixar em Paris novamente.
Só voltou a Portugal quando os exércitos alemães invadiram a França, convicto, como estava, de que o país seria chamado a intervir no conflito, e de que o lugar de todos os republicanos, sem distinção de partidos, deveria ser dentro dele.
Entrou em Portugal em 28 de Junho de 1940, acompanhado por um grupo de exilados políticos, de entre eles Jaime Cortesão. O Governo, punindo-o ou receando-o, fixou-lhe residência a norte do Douro. Recolheu-se a Paredes de Coura e mais tarde aos arredores do Porto.
Em 1944 foi internado numa casa de saúde do Porto. Aí morreu no dia 29 de Abril, vítima de pneumonia aguda com 93 anos de idade.
Em 1980 Bernardino Machado integrou o elenco dos primeiros portugueses agraciados – a título póstumo - com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, Ordem Honorífica Portuguesa criada após o 25 de abril para distinguir “serviços relevantes prestados à causa da democracia e da liberdade”.
Biografia completa
Bernardino Luís Machado Guimarães nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de Março de 1851. Foram seus pais: António Luís Machado Guimarães, 1.º Barão de S. Joane, e Praxedes de Sousa Ribeiro Guimarães, sua segunda mulher. De Vila Nova de Famalicão, seu pai rumou ao Brasil, tornando-se abastado comerciante.
Em 1860 toda a família regressou a Portugal, vivendo primeiro em Joane, depois em Vila Nova de Famalicão. O papel que António Guimarães desenvolveu em matéria de administração municipal, justiça e benemerência, valeu-lhe, em 1870, o baronato.
Em 1872 Bernardino Machado atingiu a maioridade e optou pela nacionalidade portuguesa. Aos 20 anos casou-se com Elzira Dantas Gonçalves Pereira, de quem teve 19 filhos.
Os estudos iniciados na infância, ainda no Brasil, tiveram continuação no Porto, culminando na Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1866. Aqui concluiu, em 1873, o bacharelato em Matemática e em Filosofia. Em 1875 licenciou-se, e dois anos mais tarde doutorou-se com a tese: Dedução das Leis dos Pequenos Movimentos Periódicos da Força Elástica.
Percurso académico e científico
Em Fevereiro de 1877 foi nomeado lente substituto da Faculdade de Filosofia, encarregado da cadeira de Agricultura; dois anos mais tarde, professor catedrático.
Em 1880 lecionou Geologia; em 1881 tornou-se responsável da cadeira de Agricultura, passando, em 1883, a reger a 1ª e 2ª cadeiras de Física. Em 1886 coube-lhe a cadeira de Antropologia.
Exerceu a docência na Universidade de Coimbra até 1907, ano em que se demitiu da cátedra, concretamente na sequência da expulsão de alguns alunos grevistas determinada pelo Conselho de Decanos. Por proposta da Faculdade de Ciências daquela Universidade, voltou a ser reintegrado em 1919.
Em 1890 presidiu à Academia de Estudos Livres; em 1892 e 1897 aos congressos do Magistério Primário. Representou Portugal nas comemorações do Tricentenário de Cristóvão Colombo e nas Jornadas do Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, ambos realizados em Madrid.
Em 1891-1892 dirigiu o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Em 1892 foi nomeado vogal do Conselho Superior de Instrução Pública.
Mentor da escola pública, laica e democrática, desenvolveu uma pedagogia inovadora inspirada na escola da “Educação nova”. Espelhou as suas ideias em diversos estudos: A Introdução à Pedagogia (1892), O Ensino (1898), O Ensino Primário e Secundário (1899) e O Ensino Profissional (1899).
Em Março de 1873 foi admitido como sócio no Instituto de Coimbra, que dirigiu entre 1896 e 1908. Em Agosto de 1878 foi eleito procurador substituto à Comissão Distrital da Junta Geral de Coimbra.
Percurso político
Iniciou-se na política bastante novo pela mão do chefe regenerador Fontes Pereira de Melo. Em Agosto de 1881 foi proposto deputado pelo círculo de Vila Nova de Famalicão, mas desistiu a favor de Adolfo Cunha Pimentel.
Nas eleições suplementares de 1882 foi eleito deputado pelo círculo de Lamego, em representação do Partido Regenerador. Estreou-se como orador parlamentar em 1883.
Na legislatura seguinte (1884-1887) foi reeleito, agora por Coimbra. Em 1890 foi eleito par do Reino pelos estabelecimentos científicos, lugar que ocupou até 1893.
Em Fevereiro de 1893 integrou o primeiro ministério de Hintze Ribeiro como ministro das Obras Públicas. Nessa qualidade autorizou a organização da Exposição Industrial Portuguesa e promoveu a criação do Tribunal dos Árbitros Avindores, considerado por alguns autores o primeiro Tribunal de Trabalho. Demitiu-se em Dezembro do mesmo ano.
Em Abril de 1894 foi reeleito par do Reino, cargo que ocupou até à abolição dos pares eletivos, em Setembro do ano seguinte.
Como parlamentar o ensino mereceu-lhe especial atenção. À data, acumulava já uma empenhada e inovadora experiência docente. Por exemplo, tinha resultado de um projeto da sua iniciativa a criação da cadeira de Antropologia – que regeu - na Faculdade de Filosofia, substituindo a de Agricultura. A reforma da instrução secundária, a liberdade no ensino e a organização do Conselho Superior de Instrução Pública, de que será vogal, foram as principais questões que abordou.
Em 1874 entrou na Maçonaria, na Loja Perseverança, com o nome simbólico de "Littré". Presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano, de 1892 a 1895, o seu prestígio elevou-o a grão-mestre, cargo que ocupou de 1895 a 1899.
Em 31 de Outubro de 1903, descrente dos valores e práticas monárquicas, fez a sua profissão de fé republicana numa conferência proferida no Ateneu Comercial de Lisboa. Aderia, formalmente, ao Partido Republicano Português (PRP). A partir de então, o prestígio e a sua capacidade organizadora, contribuíram decisivamente para a remodelação e o robustecimento do partido.
Em 1906 foi eleito membro do Diretório e seu Presidente até 1909. Tomou parte nas vigorosas campanhas de ataque à Monarquia e de propaganda dos ideais republicanos, intervindo ativamente em numerosos comícios.
Em 1904, 1905 e 1906 perfilou-se como candidato a deputado nas listas republicanas, sempre pelo círculo de Lisboa, nunca conseguindo ser eleito.
Exerceu a docência na Universidade de Coimbra até 1907, ano em que se demitiu da cátedra, em protesto contra a ditadura de João Franco, e, concretamente, na sequência da expulsão de alguns alunos grevistas determinada pelo Conselho de Decanos. Por proposta da Faculdade de Ciências daquela Universidade, voltou a ser reintegrado em 1919.
Em 1907 solidarizou-se com os estudantes grevistas da Universidade de Coimbra, num movimento generalizado de contestação ao governo de João Franco; demitiu-se do lugar de professor catedrático como protesto contra a repressão exercida durante a greve académica. A sua atitude mereceu-lhe homenagens públicas. Nas vésperas da proclamação da República era um dos mais populares, prestigiados e amados líderes populares.
Em Agosto de 1910 foi um dos cinco deputados eleitos por Lisboa Oriental, juntamente com António José de Almeida, Afonso Costa, Alfredo de Magalhães e Miguel Bombarda.
Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, integrou o governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Assumiu interinamente, de Abril a Junho de 1911, a pasta da Justiça, por doença do seu titular, Afonso Costa.
Em 1911 foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo de Lisboa.
A sua amizade e aliança tática com Afonso Costa tornaram-no o candidato radical à primeira Presidência da República, perdendo a eleição para Manuel de Arriaga, apoiado pelas forças do "bloco".
Eleito senador em 25 de Agosto de 1911, abandonou funções por ter sido indigitado o primeiro governo constitucional da República em Setembro seguinte.
Em 20 de Janeiro de 1912 foi nomeado ministro de Portugal no Rio de Janeiro. Veio a tomar posse da legação portuguesa em Julho seguinte, elevada a embaixada em Novembro de 1913.
Bernardino Machado regressou a Portugal em Fevereiro de 1914, quando se vivia no país uma crise ministerial. Chegou a tempo de colher a herança de Afonso Costa, entretanto demitido. Formou um ministério extrapartidário, num esforço de consenso e apaziguamento das contendas partidárias. O executivo tomou posse no dia 9 de Fevereiro de 1914, mantendo-se em funções até 23 de Junho. Pretendia ser um governo de reconciliação nacional, prevendo no seu programa uma proposta de tréguas entre monárquicos, sindicalistas e católicos, a quem prometia uma revisão da lei da separação da Igreja do Estado. Constituiu, na prática, um governo de técnicos.
Pediu a demissão coletiva do executivo a que presidiu, consciente de que a saída dos ministros do Partido Democrático seria benéfica para o regular funcionamento da vida política. Foi exonerado no dia 23 de Junho, mas imediatamente autorizado por Manuel de Arriaga, Presidente da República, a constituir novo governo. A tomada de posse ocorreu nesse mesmo dia, com uma formação de ministros independentes. Manteve-se em exercício até Dezembro seguinte.
Coube a Bernardino Machado a difícil tarefa de definir a posição de Portugal no conflito europeu ao lado dos Aliados. Em Agosto de 1914 apresentou uma proposta de lei, que foi aprovada, visando conferir ao executivo as faculdades necessárias para garantir a ordem na conjuntura de guerra.
Em 23 de Novembro de 1914 leu no Congresso a declaração governamental sobre a intervenção militar portuguesa na guerra, fazendo-a depender de pedido expresso da Inglaterra, no momento em que esta tal achasse necessário. A posição mereceu severas críticas por parte de muitos democráticos e evolucionistas, defensores de uma intervenção de Portugal que não esperasse pelo pedido inglês. Bernardino Machado veio a demitir-se em 5 de Dezembro seguinte, regressando ao lugar de senador.
Em Março de 1915 tomou uma posição frontal contra o governo de ditadura de Pimenta de Castro, participando na reunião do Congresso, no palácio da Mitra.
Eleição para Presidente da República
A vitória dos democráticos na revolta de 14 de Maio de 1915 e nas eleições subsequentes, garantiram a Bernardino Machado a eleição para a Presidência da República, consumada em 6 de Agosto de 1915. Obteve 134 votos no terceiro escrutínio, contra 18 de Correia Barreto e 27 boletins de voto nulos.
Todavia a sua eleição não foi pacífica, mesmo entre os democráticos, cujas preferências se dividiram entre António Xavier Correia Barreto, Alves da Veiga e Duarte Leite. O candidato evolucionista foi o poeta Guerra Junqueiro; pelos unionistas surgiu Duarte Leite.
Na primeira votação compareceram 189 congressistas e os votos distribuíram-se pelos vários candidatos: Bernardino Machado, 71; Correia Barreto, 44; Abílio de Guerra Junqueiro, 33; Duarte Leite, 20; Augusto Alves da Veiga, 4; Pedro Martins e José Caldas, 1; boletins em branco, 15. No segundo escrutínio, os resultados foram: Bernardino Machado, 75; Correia Barreto, 45; Guerra Junqueiro, 30; Duarte Leite, 19; Alves da Veiga, 2; votos em branco, 12.
Primeiro Exílio
Deposto pelo golpe sidonista, Bernardino Machado partiu para o exílio em França, via Madrid, no dia 15 de Dezembro de 1917. Chegou a Paris um mês depois e aí residiu até Abril de 1918, altura em que se mudou para Hendaye.
Em Novembro de 1918 seguiu para Cambo-les-Bains. Em Dezembro regressou novamente a Paris. Durante todo o exílio Bernardino Machado redigiu várias proclamações e manifestos contra o consulado sidonista, encontrou-se com políticos e altas individualidades francesas e inglesas, concedeu entrevistas e proferiu várias conferências públicas. Em Maio de 1918 sofreu um rude golpe com o reconhecimento oficial do regime de Sidónio Pais pelos governos francês e inglês.
Após a morte de Sidónio, em 14 de Dezembro de 1918, Bernardino Machado acalentou a expectativa de ser chamado a Portugal para concluir o mandato presidencial. Na verdade, poucos o queriam de volta, razão porque a preferência foi para a eleição de Canto e Castro. Decidiu, pois, renunciar, ao mandato, proferindo uma mensagem em 18 de Fevereiro de 1919. Ainda neste mês foi autorizado a regressar a Portugal.
Retoma da Atividade Política Nacional
Chegado do exílio em Agosto de 1919, voltou em força à atividade política, tendo sido sendo eleito novamente senador por Lisboa, em Outubro seguinte.
Por esta altura ocorreu a sua reintegração como professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra – a 5 de Novembro -, mas aposentou-se pouco depois.
No dia 25 de Fevereiro de 1921, o então Presidente da República, António José de Almeida, convidou-o a formar governo. Bernardino Machado cedeu à interpelação e constituiu um executivo plural, com representações das diversas forças políticas.
Este terceiro governo a que presidiu, em funções desde 2 de Março, teve vida curta. Com base num suposto envolvimento na preparação de um golpe de estado para depor António José de Almeida, ocorreram movimentações protagonizadas pela GNR, que conduziram à queda do gabinete a 23 de Maio. Dissolvido o Congresso e marcadas novas eleições para Julho, decidiu não concorrer, ficando fora das câmaras.
Em Outubro de 1921 recusou o convite para representar Portugal na Conferência de Washington, acontecimento que foi determinante para a pacificação das relações inter-países e para a concretização de uma política de desarmamento.
Nas eleições presidenciais de 6 de Agosto de 1923 apresentou-se novamente como candidato. Foi surpreendido com a recusa de apoio dos democráticos, ainda ressentidos com as posições divergentes que Bernardino Machado havia tomado por ocasião do golpe de Sidónio Pais. Consideravam também a sua imagem desgastada, preterindo-o a favor de Manuel Teixeira Gomes. Magoado, convencido de um direito que a usurpação sidonista lhe havia retirado, aceitou o apoio dos conservadores. A sua candidatura foi derrotada pela de Teixeira Gomes.
Em Novembro de 1925 foi eleito senador pela Conjunção Republicano-Socialista.
Segundo Exílio
Após o abandono do cargo de Presidente da República, aos 75 anos de idade, continuou a viver no Castelo de Santa Catarina, a sua casa na Cruz Quebrada, muito próximo de Lisboa. Retomou rapidamente o combate político. Estreitou relações com os opositores; aconselhou e apoiou os conspiradores que prepararam a revolução de Fevereiro de 1927.
Foram estas ligações que motivaram a segunda expulsão de território nacional. Nas vésperas do movimento revolucionário de Fevereiro de 1927, os ditadores, repetindo o gesto de Sidónio Pais, expulsaram do país Bernardino Machado. Esteve em Vigo, em Cambo-les-Bains, em Paris, em Bayonne, em Ustaritz, Biarritz, La Guardia, Madrid, Valencia, Banyuls-sur-Mer e Mónaco.
Durante o longo segundo exílio, de treze anos, tentou de forma constante e empenhada, a par com Afonso Costa, unir os opositores à ditadura vigente, os que ficaram ou os que saíram do país. Em sua casa tiveram lugar inúmeras reuniões de exilados políticos. Por várias vezes dirigiu-se aos chefes de Estado e de Governo, bem como à Sociedade das Nações, protestando contra o reconhecimento oficial da Ditadura.
Em 1936, a ausência de liberdade de expressão em Portugal, levou-o a, perante uma amnistia do governo, recusar o regresso ao país.
Publicou dezenas de manifestos contra a Ditadura e o Estado Novo, dos quais se destacam A Pastoral Financeira do Patriarca (1928), O Crime Financeiro da Ditadura (1929), O Estado Novo Ditatorial (1931), Os Perigos da Ditadura (1933), O Estado Novo e o Grande Empréstimo Externo (1935) e Os Perigos Coloniais (1935).
Alguns dos seus filhos e outros membros da família foram presos. Foi multado com a exorbitante quantia – à época - de 200 contos, sob a acusação de trair os interesses do país.
Proclamada a República em Espanha, fixou-se em La Guardia, na Galiza, não sem que o governo de Oliveira Salazar pressionasse as autoridades espanholas para impedirem a fixação, junto à fronteira, de líderes da oposição exilados. No Verão de 1935 o governo de Lerroux cedeu, razão porque Bernardino Machado mudou para Madrid. A eclosão da guerra civil espanhola obrigou-o a sair da capital, quando a cidade estava quase cercada pelas forças nacionalistas.
Em Setembro de 1936 deslocou-se para Valência, e em Outubro, instado por familiares e amigos, rumou a França, acabando por se fixar em Paris novamente.
Só voltou a Portugal quando os exércitos alemães invadiram a França, convicto, como estava, de que o país seria chamado a intervir no conflito, e de que o lugar de todos os republicanos, sem distinção de partidos, deveria ser dentro dele.
Entrou em Portugal em 28 de Junho de 1940, acompanhado por um grupo de exilados políticos, de entre eles Jaime Cortesão. O Governo, punindo-o ou receando-o, fixou-lhe residência a norte do Douro. Recolheu-se a Paredes de Coura e mais tarde aos arredores do Porto.
Em 1944 foi internado numa casa de saúde do Porto. Aí morreu no dia 29 de Abril, vítima de pneumonia aguda com 93 anos de idade.
Em 1980 Bernardino Machado integrou o elenco dos primeiros portugueses agraciados – a título póstumo - com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, Ordem Honorífica Portuguesa criada após o 25 de abril para distinguir “serviços relevantes prestados à causa da democracia e da liberdade”.
Mandatos Presidenciais
Primeira eleição: 5 de outubro de 1915 - 11 de dezembro de 1917 / Segunda eleição: 11 de dezembro de 1925 - 31 de maio de 1926
Primeiro Mandato Presidencial
O chefe do Estado demonstrou uma vez mais solidariedade política a Afonso Costa, líder do Partido Democrático. Chamou-o a constituir ministério, concedendo-lhe pleno apoio durante mais de dois anos. Afonso Costa iniciou funções em 29 de Novembro de 1915 e presidiu a um ministério de composição exclusivamente democrática até 15 de Março de 1916.
Nos inícios de 1916, em plena Grande Guerra, a Grã-Bretanha solicitou a Portugal que requisitasse os navios mercantes alemães refugiados em águas portuguesas. O governo português, consciente do risco que tal medida acarretaria, levou a cabo essa decisão em Fevereiro. Na sequência, não tardou a declaração de guerra por parte da Alemanha, em 9 de Março, seguida do corte de relações diplomáticas com a Áustria-Hungria.
Com a entrada formal do país na Grande Guerra, e por iniciativa de Bernardino Machado, democráticos e evolucionistas concordaram em formar um governo de unidade republicana. Conhecido como a “União Sagrada" teve de cumprir a difícil tarefa de organizar uma força expedicionária destinada a combater em França, além de expedições a Angola e a Moçambique.
O exército português não estava em condições de ser enviado para os campos de batalha da Flandres (francesa) e submeter-se ao confronto com os modernos exércitos europeus. Afonso Costa, que se tornara a face exterior de Portugal perante os Aliados, foi acusado de descurar a política interna: católicos e monárquicos conspiraram e, mesmo no interior do próprio Partido Democrático, foi alvo de críticas e acusado de autoritarismo.
Afonso Costa cedeu a liderança do executivo a António José de Almeida, apoiado, ainda que sem representação direta, por unionistas e socialistas. Os democráticos continuaram, no entanto, com o domínio das pastas mais importantes: Finanças, Guerra e Negócios Estrangeiros.
Em Dezembro de 1916 Machado Santos liderou uma revolta militar com a colaboração de tropas de Tomar. O esforço de guerra e o reduzido espaço de manobra deixado pelos democráticos levaram os evolucionistas a abandonar o governo sem retirarem, no entanto, o apoio parlamentar. Bernardino Machado chamou de novo Afonso Costa, que reassumiu as Finanças e a Presidência do ministério, de Abril a Dezembro de 1917.
Todo esse ano havia sido difícil. A inflação resultante da economia de guerra deu origem a um movimento reivindicativo, sem precedentes, contra a carestia de vida. A agitação social pululou nas cidades e até na província. O protesto saiu à rua. De 19 a 21 de Maio deflagraram em Lisboa e arredores greves, motins, assaltos a mercearias e armazéns, insurreições que ficaram conhecidas pela "Revolução da Batata". Da intervenção da força pública resultaram 25 mortos e cinco dezenas de feridos graves, além da suspensão total de garantias constitucionais durante um mês. No Porto a vaga de agitação social causou mais de 22 vítimas mortais. Em 12 de Julho registaram-se na capital novos confrontos com os grevistas, resultando em cinco mortos, numerosos feridos, presos, e a declaração do estado de sítio até ao dia 28.
Em Setembro seguinte a União Operária Nacional (UON), a Associação de Lojistas de Lisboa e o Sindicato Ferroviário pronunciaram-se sobre as greves dos correios, telégrafos e telefones e no dia 8 a UON convocou uma greve geral, tendo o governo respondido com a mobilização dos grevistas.
Entretanto, a partir de 9 de Junho de 1917, Afonso Costa e Augusto Soares haviam participado, em Paris, na Conferência Económica dos Aliados. Alguns dias depois, Afonso Costa deslocou-se a Londres para negociar as condições da participação nacional na guerra.
Na frente das operações portuguesas em França (Flandres), entre 8 e 17 de Outubro, os militares receberam a visita de Bernardino Machado, Afonso Costa e Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros. Bernardino Machado aproveitou a ocasião para se avistar com líderes políticos estrangeiros: Afonso XIII de Espanha a 9; Raymond Poincaré a 10; Jorge V de Inglaterra a 18, e Alberto I da Bélgica a 22. Foi a primeira vez que um Presidente da República Portuguesa se deslocou ao estrangeiro. Recebeu, dos chefes do Estado estrangeiros, as mais altas condecorações.
O governo de Afonso Costa encontrava-se cada vez mais isolado nos campos e nas cidades. Era já o seu terceiro governo e agora colocara contra si todos os setores da vida nacional: o movimento operário e sindical, adversário da política de guerra e inconformado com as medidas repressivas exercidas; o patronato, receoso das alterações da ordem pública que o executivo não conseguia suster por completo; a Igreja e os católicos, temerosos do bolchevismo, com o fôlego das recentes aparições em Fátima, entre Maio e Outubro de 1917.
A 19 de Novembro realizaram-se eleições municipais em Lisboa, tendo os democráticos vencido por uma escassa margem de 200 votos. O líder Afonso Costa partiu para Paris nesse dia, para tomar parte na Conferência dos Governos Aliados. Regressou a 6 de Dezembro, já com a revolução sidonista na rua.
Bernardino Machado tentou ainda negociar com a Junta Revolucionária. Alegadamente sem consultar Afonso Costa e invocando a necessidade de impedir o alastramento de cisões no exército, aceitou a demissão do governo e procurou formar um executivo liderado por Brito Camacho.
A revolta de Sidónio Pais saiu vitoriosa. A 9 de Dezembro o chefe do Estado recusou renunciar ao mandato, perante convite que lhe foi dirigido. No dia seguinte Bernardino Machado foi colocado sob prisão e a 11 destituído das suas funções por decreto da Junta Revolucionária. Nesse mesmo dia, por decreto, foi obrigado a residir fora do país até 5 de Outubro de 1919, dia em que, em contexto político normal, terminaria o mandato de 4 anos.
Segunda Eleição para Presidente da República
Em 1925, perante a demissão de Manuel Teixeira Gomes, Bernardino Machado, então com 74 anos de idade, candidatou-se novamente à Presidência da República e conseguiu ser eleito em 11 de Dezembro, após segundo escrutínio, numa composição parlamentar que deu maioria absoluta ao Partido Democrático.
No primeiro escrutínio os resultados distribuíram-se pelos oito candidatos: Bernardino Machado obteve 124 votos; Duarte Leite, 33; Francisco Gomes Teixeira 5; António Maria Bettencourt Rodrigues, Belo de Morais, Afonso Costa e Jacinto Nunes, 1. Verificaram-se 4 votos em branco. Bernardino Machado foi eleito na segunda votação com 148 votos, Duarte Leite obteve 5 e Bettencourt Rodrigues apenas 1. Registaram-se 6 boletins em branco.
Segundo Mandato Presidencial
Desde logo empossou o executivo do democrático António Maria da Silva, a liderar, pela sexta vez, um governo.
Foi um breve mandato presidencial, de 17 de Dezembro de 1925 a 30 de Maio de 1926. A Nova República Velha tinha os dias contados. O descontentamento generalizara-se na sociedade portuguesa. A desagregação económica, social e política da República conduziu a uma aproximação das diversas fações políticas oposicionistas; instalou-se a crise de legitimidade dos "bonzos", a ala direita do PRP.
As tentativas de golpe sucederam-se. Em Fevereiro de 1926 Martins Júnior e Lacerda de Almeida entraram no quartel da Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas e, com o apoio de sargentos e civis, dominaram os oficiais.
Desde o início do ano que se haviam formado juntas militares regionais em Braga, Coimbra, Lisboa e Évora. A 10 de Março o deputado Cunha Leal apresentou no Parlamento o novo Partido da União Liberal Republicana, constituído a partir de um grupo que se separara do Partido Nacionalista. A 27 desse mês o grupo Seara Nova denunciou a ameaça latente da instauração de um regime de tipo fascista. A 26 de Abril Cunha Leal incitou o Exército a salvar a República num discurso proferido em Braga. Adivinhava-se o golpe militar que se concretizaria em 28 de Maio de 1926.
O golpe, fundador da Ditadura Militar, desenvolveu-se a partir de Braga, formalmente sob a liderança do general Gomes da Costa, herói das campanhas africanas e da I Guerra Mundial. Em Lisboa, o capitão de mar-e-guerra José Mendes Cabeçadas Júnior, que quando jovem segundo-tenente da Marinha havia tido papel determinante na vitória do 5 de Outubro de 1910, secundou de imediato Gomes da Costa, reclamando de Bernardino Machado a demissão do Governo. O Presidente da República contrariou a conspiração reagindo com ações intimidatórias. Mas as adesões seguiram-se um pouco por todo o país e a ação popular de rua não convenceu.
No dia 29 de Maio de 1926 Bernardino Machado aceitou o pedido de demissão apresentado coletivamente pelos membros do governo de António Maria da Silva. No dia seguinte exonerou o gabinete demissionário e nomeou Mendes Cabeçadas presidente do novo ministério, que acumulou a pasta da Marinha e interinamente as restantes áreas ministeriais. Nesse mesmo dia foi encerrada a Câmara dos Deputados e o Senado.
A 31 de Maio Bernardino Machado demitiu-se da Presidência da República e transmitiu formalmente todos os poderes ao comandante Mendes Cabeçadas, principal representante da corrente republicana conservadora envolvida no golpe. Esperou, assim, manter o golpe dentro dos limites constitucionais. No dia seguinte, Bernardino Machado abandonou o palácio de Belém.
Visitas de Estado
Em plena 1.ª Guerra Mundial, o Presidente Bernardino Machado, movido pelas más notícias da frente de guerra, resolveu manifestar o seu apoio à participação de Portugal visitando as tropas em Verdun e em Reims. No forte clima de instabilidade que se vivia, o contingente nacional partiu sem pompa nem circunstância. Na ocasião recebeu simbolicamente um conjunto de balas disparadas no conflito, numa época em que se acreditava que se chegava ao poder através das armas ou revoluções, e não através de eleições que na realidade asseguravam a alternância política. O mês de Outubro de 1917 é todo dedicado à viagem a França, onde será recebido pelo Presidente da República francês, Raymond Poincaré. A deslocação incluirá também a Inglaterra, a Espanha e a Bélgica.
Retrato Oficial
O testemunho de um neto, Manuel Machado Sá Marques, médico, deu conta das inúmeras vezes que Columbano Bordalo Pinheiro tentou retratar Bernardino Machado, contudo, sem sucesso. Os encontros traduziram-se em conversas animadas, subtilmente alimentadas por Bernardino Machado, desviando o pintor da sua missão.
Martinho da Fonseca viria a ser o autor do retrato a óleo. O secretário-geral da Presidência da República obteve autorização da então direção-geral da Contabilidade Pública, em abril de 1935, para dispor de uma verba de 30 mil escudos, não se mencionando qual o pintor.
Uma carta citada por Manuel Sá Marques, redigida pelo tio, o escritor Aquilino Ribeiro, para o sogro, Bernardino Machado, fornece mais informações que completam os contornos da encomenda, nomeadamente: o Governo, com o empenho de Oliveira Salazar, presidente do Conselho de Ministros, estava a organizar uma Galeria dos Retratos; foi o pintor Henrique Medina que fixou o preço de cada retrato, entre 30 mil e 35 mil escudos; Abel Manta manifestou o desejo de pintar Bernardino Machado; constar ao lado de Óscar Carmona, então na chefia do Estado, desagradava a Bernardino Machado; Salazar, influenciado pelo seu médico, Francisco Gentil, gostava que fosse Martinho da Fonseca o autor do retrato oficial, mencionando os graves problemas económicos que o artista vivia. E assim veio a ser. Martinho da Fonseca deslocou-se à Galiza, em 1935, onde Bernardino Machado se encontrava exilado, e aí realizou a obra.
A tela recria o ambiente do Palácio de Belém, sugerido na consola Império e no vaso de porcelana que servem de fundo ao Presidente da República, sentado na Cadeira dos Leões.