Teófilo Braga

Biografia
Teófilo Braga foi o segundo Presidente eleito da República Portuguesa, ainda que por escassos meses.
Cumprindo o estipulado na Constituição da República Portuguesa de 1911, foi escolhido para completar o que restava do mandato de Manuel de Arriaga, que pedira a demissão.
Eleito em 29 de maio de 1915, Teófilo Braga – autor do programa do Partido Republicano Português – cumpriu o seu mandato de transição até outubro.
Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu em Ponta Delgada (ilha de S. Miguel, Açores), no dia 24 de fevereiro de 1843. Foi o sétimo filho de Joaquim Manuel Fernandes Braga (1804-1870) e Maria José da Câmara Albuquerque 1815-1846). O pai era professor no Liceu de Ponta Delgada. A sua infância ficou marcada pela morte da mãe, quando tinha 3 anos. A convivência com a madrasta, austera e distante, deixou-lhe mágoas, que partilhou nalguns textos, e vincou-lhe a personalidade.
Em 1853, ao iniciar o ensino primário, acrescentou Teófilo ao seu nome, passando a ser, só então, Joaquim Teófilo. Estudou na cidade natal até ao ensino secundário, demonstrando, desde cedo, grande interesse pela escrita. Com 15 anos, publicou o primeiro poema – «A Canção do Guerreiro» –, no jornal da Ribeira Grande, A Estrela Oriental. No mesmo ano, fundou, em Ponta Delgada, o jornal literário O Meteoro, e no ano seguinte, O Santelmo, quinzenário onde também foi tipógrafo. Esta função revelava uma outra faceta de Teófilo Braga: a de artista amador. Desenhos, aguarelas, trabalhos em madeira e baixos-relevos, que deixou no seu espólio, são testemunhos de um lado menos conhecido de Teófilo Braga ao qual dedicava grande parte do seu tempo. Aos 16 anos, publicou o primeiro livro de poesia (Folhas Verdes), com o apoio do Visconde da Praia, e aos 21 o livro Visão dos Tempos, que teve uma receção entusiástica em Portugal, Itália e Brasil.
Aos 18 anos, após terminar o liceu, deixou S. Miguel e partiu para Coimbra. Acabaria por nunca regressar aos Açores, embora a sua relação afetiva ao arquipélago permanecesse até ao fim da vida.
Ainda estudante universitário, conheceu Maria do Carmo Xavier de Barros Leite, com quem se casou em abril de 1868. A vida a dois ficaria marcada pela perda dos 3 filhos: Joaquim Teófilo, morto à nascença (1869), e, separados por poucos meses, Teófilo (1886), de 13 anos, e Maria da Graça (1887), de 16, vítimas da tuberculose.
No ano letivo de 1862-1863, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Concluiu o curso no verão de 1867, doutorando-se no ano seguinte com uma tese sobre os forais dedicada ao irmão, João Maria Fernandes Braga, morto em Moçambique (1866), durante as campanhas militares em Árica.
Será em Lisboa, aos 29 anos, que obtém o tão desejado lugar na Universidade, mas não no Direito. Iniciou, então, uma carreira de professor que se prolongará durante mais de cinco décadas com a cadeira de Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras (que antecedeu a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Os múltiplos interesses culturais de Teófilo Braga estimularam-no a escrever, a um ritmo imparável, algumas centenas de livros. A sua bibliografia ascende a mais de 300 títulos, distribuídos por áreas tão diversas como a História universal e da Literatura, a Filosofia da História, o Teatro ou a Poesia. Especial destaque merece a incontornável História da Literatura Portuguesa (1909-1918). Desenvolveu durante cerca de 50 anos, com dezenas de académicos, autores e tradutores estrangeiros, um permanente trabalho de promoção da cultura portuguesa.
Foi um dos principais representantes do positivismo em Portugal. Entre 1872 e 1877 estudou Augusto Comte, cuja doutrina inspirou Traços Gerais Filosofia Positiva (1877) e o Sistema de Sociologia (1884).
Em 1875, foi um dos subscritores da carta que solicitou ao Rei D. Luís I a criação da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tornou-se sócio efetivo da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1889. Em 1907, em discordância do rumo da Academia Real das Ciências de Lisboa, funda a Academia das Ciências de Portugal, assumindo a presidência da instituição.
Participou ativamente no movimento de contestação estudantil de Coimbra. Conterrâneo de Antero de Quental, de quem foi amigo (e, depois, quase inimigo), foi juntamente com ele uma das principais figuras da Questão Coimbrã e da chamada Geração de 70. Foi também um dos subscritores das Conferências do Casino (1871), iniciativa que visava preparar a opinião pública para o debate dos temas filosóficos, sociais e científicos então em voga na Europa e, simultaneamente, planear um novo rumo para os destinos de Portugal.
Teófilo Braga foi um dos principais ideólogos do 10 de Junho como festa nacional, com grande destaque para o ano de 1880, quando se comemorou o Tricentenário da Morte de Luís Vaz de Camões. Conhecedor e estudioso da obra do poeta, Teófilo apresentou-o como símbolo da identidade nacional. Os grandes festejos do Tricentenário da Morte de Camões – no dia 10 de junho de 1880 –, inspirados nas festas cívicas introduzidas pela Revolução Francesa, realizaram-se por todo o país e foram um momento marcante na difusão dos ideais do republicanismo em Portugal.
Foi a faceta de pensador que conduziu Teófilo Braga à política. Influenciado pelo positivismo, defendia que a República acabaria por prevalecer sobre a Monarquia, numa ordem natural. Envolveu-se no combate político a partir de 1870, tornando-se um dos principais nomes do Partido Republicano Português cujo programa redigiu, em 1891.
No Governo Provisório da República
Foi no dia da revolução – 5 de outubro de 1910 – que Teófilo Braga ficou a saber que o tinham escolhido para chefiar o Governo Provisório. Não participara na preparação da revolução, pelo que a escolha terá ficado a dever-se ao seu prestígio intelectual e de teórico do republicanismo.
Durante o período do Governo Provisório – até 3 de setembro de 1911 –, foram adotados os novos símbolos nacionais (a bandeira e o hino). Teófilo foi o principal defensor das novas cores para a bandeira nacional. Nesse período, reuniu-se a Assembleia Nacional Constituinte que tinha como principal competência debater e elaborar a Constituição. Em agosto de 1911, Teófilo Braga assinou a primeira Constituição da República Portuguesa, terminando assim a sua missão como presidente do Governo Provisório.
Depois da Presidência da República
Após terminar o seu curto mandato de Presidente da República, Teófilo regressou ao seu estilo de vida solitário. Esta característica acentuara-se desde 1911, quando ficou viúvo. Refugiou-se nos livros e na escrita, habitando, quase como um recluso, a sua casa na Travessa de Santa Gertrudes (Lisboa), renomeada com o seu nome em fevereiro de 1926.
Morreu a 28 de janeiro de 1924, cerca de um mês antes de completar 81 anos. O seu funeral teve honras de Estado, e foi decretado um dia de luto nacional. Ficou sepultado no Mosteiro dos Jerónimos até 1966. Nesse ano, os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional, por ocasião da inauguração da Igreja de Santa Engrácia.
Biografia completa
Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu em Ponta Delgada (ilha de S. Miguel, Açores), no dia 24 de fevereiro de 1843. Foi o sétimo filho de Joaquim Manuel Fernandes Braga (1804-1870) e Maria José da Câmara Albuquerque 1815-1846). O pai era professor no Liceu de Ponta Delgada. A sua infância ficou marcada pela morte da mãe, quando tinha 3 anos. A convivência com a madrasta, austera e distante, deixou-lhe mágoas, que partilhou nalguns textos, e vincou-lhe a personalidade.
Em 1853, ao iniciar o ensino primário, acrescentou Teófilo ao seu nome, passando a ser, só então, Joaquim Teófilo. Estudou na cidade natal até ao ensino secundário, demonstrando, desde cedo, grande interesse pela escrita. Com 15 anos, publicou o primeiro poema – «A Canção do Guerreiro» –, no jornal da Ribeira Grande, A Estrela Oriental. No mesmo ano, fundou, em Ponta Delgada, o jornal literário O Meteoro, e no ano seguinte, O Santelmo, quinzenário onde também foi tipógrafo. Esta função revelava uma outra faceta de Teófilo Braga: a de artista amador. Desenhos, aguarelas, trabalhos em madeira e baixos-relevos, que deixou no seu espólio, são testemunhos de um lado menos conhecido de Teófilo Braga ao qual dedicava grande parte do seu tempo. Aos 16 anos, publicou o primeiro livro de poesia (Folhas Verdes), com o apoio do Visconde da Praia, e aos 21 o livro Visão dos Tempos, que teve uma receção entusiástica em Portugal, Itália e Brasil.
Aos 18 anos, após terminar o liceu, deixou S. Miguel e partiu para Coimbra. Acabaria por nunca regressar aos Açores, embora a sua relação afetiva ao arquipélago permanecesse até ao fim da vida.
Ainda estudante universitário, conheceu Maria do Carmo Xavier de Barros Leite, com quem se casou em abril de 1868. A vida a dois ficaria marcada pela perda dos 3 filhos: Joaquim Teófilo, morto à nascença (1869), e, separados por poucos meses, Teófilo (1886), de 13 anos, e Maria da Graça (1887), de 16, vítimas da tuberculose.
No ano letivo de 1862-1863, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Concluiu o curso no verão de 1867, doutorando-se no ano seguinte com uma tese sobre os forais dedicada ao irmão, João Maria Fernandes Braga, morto em Moçambique (1866), durante as campanhas militares em Árica.
Será em Lisboa, aos 29 anos, que obtém o tão desejado lugar na Universidade, mas não no Direito. Iniciou, então, uma carreira de professor que se prolongará durante mais de cinco décadas com a cadeira de Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras (que antecedeu a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Os múltiplos interesses culturais de Teófilo Braga estimularam-no a escrever, a um ritmo imparável, algumas centenas de livros. A sua bibliografia ascende a mais de 300 títulos, distribuídos por áreas tão diversas como a História universal e da Literatura, a Filosofia da História, o Teatro ou a Poesia. Especial destaque merece a incontornável História da Literatura Portuguesa (1909-1918). Desenvolveu durante cerca de 50 anos, com dezenas de académicos, autores e tradutores estrangeiros, um permanente trabalho de promoção da cultura portuguesa.
Foi um dos principais representantes do positivismo em Portugal. Entre 1872 e 1877 estudou Augusto Comte, cuja doutrina inspirou Traços Gerais Filosofia Positiva (1877) e o Sistema de Sociologia (1884).
Em 1875, foi um dos subscritores da carta que solicitou ao Rei D. Luís I a criação da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tornou-se sócio efetivo da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1889. Em 1907, em discordância do rumo da Academia Real das Ciências de Lisboa, funda a Academia das Ciências de Portugal, assumindo a presidência da instituição.
Participou ativamente no movimento de contestação estudantil de Coimbra. Conterrâneo de Antero de Quental, de quem foi amigo (e, depois, quase inimigo), foi juntamente com ele uma das principais figuras da Questão Coimbrã e da chamada Geração de 70. Foi também um dos subscritores das Conferências do Casino (1871), iniciativa que visava preparar a opinião pública para o debate dos temas filosóficos, sociais e científicos então em voga na Europa e, simultaneamente, planear um novo rumo para os destinos de Portugal.
Teófilo Braga foi um dos principais ideólogos do 10 de Junho como festa nacional, com grande destaque para o ano de 1880, quando se comemorou o Tricentenário da Morte de Luís Vaz de Camões. Conhecedor e estudioso da obra do poeta, Teófilo apresentou-o como símbolo da identidade nacional. Os grandes festejos do Tricentenário da Morte de Camões – no dia 10 de junho de 1880 –, inspirados nas festas cívicas introduzidas pela Revolução Francesa, realizaram-se por todo o país e foram um momento marcante na difusão dos ideais do republicanismo em Portugal.
Foi a faceta de pensador que conduziu Teófilo Braga à política. Influenciado pelo positivismo, defendia que a República acabaria por prevalecer sobre a Monarquia, numa ordem natural. Envolveu-se no combate político a partir de 1870, tornando-se um dos principais nomes do Partido Republicano Português cujo programa redigiu, em 1891.
No Governo Provisório da República
Foi no dia da revolução – 5 de outubro de 1910 – que Teófilo Braga ficou a saber que o tinham escolhido para chefiar o Governo Provisório. Não participara na preparação da revolução, pelo que a escolha terá ficado a dever-se ao seu prestígio intelectual e de teórico do republicanismo.
Durante o período do Governo Provisório – até 3 de setembro de 1911 –, foram adotados os novos símbolos nacionais (a bandeira e o hino). Teófilo foi o principal defensor das novas cores para a bandeira nacional. Nesse período, reuniu-se a Assembleia Nacional Constituinte que tinha como principal competência debater e elaborar a Constituição. Em agosto de 1911, Teófilo Braga assinou a primeira Constituição da República Portuguesa, terminando assim a sua missão como presidente do Governo Provisório.
Depois da Presidência da República
Após terminar o seu curto mandato de Presidente da República, Teófilo regressou ao seu estilo de vida solitário. Esta característica acentuara-se desde 1911, quando ficou viúvo. Refugiou-se nos livros e na escrita, habitando, quase como um recluso, a sua casa na Travessa de Santa Gertrudes (Lisboa), renomeada com o seu nome em fevereiro de 1926.
Morreu a 28 de janeiro de 1924, cerca de um mês antes de completar 81 anos. O seu funeral teve honras de Estado, e foi decretado um dia de luto nacional. Ficou sepultado no Mosteiro dos Jerónimos até 1966. Nesse ano, os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional, por ocasião da inauguração da Igreja de Santa Engrácia.
Mandato Presidencial
29 de maio de 1915 - 5 de outubro de 1915
Teófilo Braga foi eleito pelo Congresso (que reunia a Câmara dos Deputados e o Senado) para completar o que restava do mandato de Manuel de Arriaga, que apresentara a demissão a 29 de maio de 1915. Assim determinava a Constituição de 1911.
O seu curto mandato (até outubro) espelhou o entendimento que tinha sobre o papel do Presidente da República. Ao contrário do seu antecessor, que acusou de intervir ilegitimamente no curso dos acontecimentos, Teófilo Braga considerava que o Presidente apenas assistia ao funcionamento do regime parlamentar. Durante esse período, o Partido Democrático manteve-se no poder, chefiado por José de Castro.
Retrato Oficial
O retrato foi encomendado a Columbano Bordalo Pinheiro em 1917. Nesta época, Teófilo Braga trabalhava na sua História da Literatura Portuguesa, que vinha publicando desde 1909. A desilusão dos primeiros anos da República levaram-no a dedicar-se aos livros e à escrita, explícitos no seu retrato, sentado numa cadeira romântica, provavelmente no gabinete de trabalho de sua casa.
Após a revolução de dezembro de 1917, terá sido o próprio Presidente da República, Sidónio Pais, a mandar retirar o retrato que continuava pendurado numa das salas do Palácio de Belém. O pensamento e a postura ditatorial de Sidónio distanciavam-se claramente das ideias republicanas de Teófilo Braga.